segunda-feira, 17 de junho de 2024

Banalidades verosímeis

Banalidades verosímeis, é o quinto e mais recente livro de Francisco Resende, editado pela Nova Mymosa.




Não foi preciso ler muito para perceber que são poucas as casualidades que me perpassam sem deixar marcas; hoje cheguei às banalidades mais profundas pela escrita de Francisco Resende.

De repente falta-me chão e as palavras, a pessoa que pensa não se pode levar a sério e os pregões de uma vida ficam ali expostos na luz e na sombra de uma estória, que pode ser de A., como em muitas linhas pode ser de C., de T., de G., ou então, fantasiando, a nenhuma delas pertencer.

Neste livro, cuja leitura iniciei numa manhã de Sábado, a escrita de Francisco Resende estava a ser intensa, cheia de imagens e viagens saboreadas numa vagareza morna ao sol; a dada altura, parei. O horizonte era uma mentira ambulante e havia o absurdo de um futuro impossível.

Aqui, a insatisfeita criatividade e a vontade de saber, levaram-me a procurar o passado na simplicidade única do tenham uma boa vida.

Procura-se um sempre, não é? Há portanto um sempre em cada um de nós, pronto a ser vivido e no espaço onde se pode libertar o que sou, há acordes que apenas ouço no meu pensamento, não sabendo se é o passado que acorre a mim, ou se sou eu que vou à procura do que poderia ter sido vivido intensamente.

Contagiam-se as palavras, abrem-se, veneram-se e a existência transforma-se no sonho do senhor Greenwich: torna-se escritor. As linhas ganham possibilidades, aparecem rasuradas, inteiras, estéreis, sobrevivem ao predestinado fracasso. A Poesia permanece inteira, única.

O Terceiro Acto, imagino-o; há ali um lugar por preencher. Mea culpa. Recuperar-se-á o tempo nunca perdido para ler. E se agora como um conto for em breve leitura para o meu regaço, acredito que as letras que o compõem, serão o que quiserem ser.

Refúgios, cicatrizes, êxtases, essência, proibições, disfarces, fingimentos e o acaso a ser um sempre. Não me resta muito mais deste delírio incompleto; a música é um mundo perturbador dos sentidos, inebriante, mesmo quando resulta na eterna canção dos três acordes.

E desse sonho que (sempre) fica, obrigada Francisco, pela maravilhosa viagem que marca a diferença entre a saudade, a insatisfação e a possibilidade de acontecer.




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