Pesar o adeus, é o quinto e mais recente livro da Andreia Azevedo Moreira, editado pela Nova Mymosa.
Um velório é o sóbrio palco desta surpreendente peça em que a vida e a morte de um homem tomam o protagonismo; o corpo inerte no caixão já nada é; o falecido foi pai, o falecido foi amigo. Na hora de dizer adeus, dois homens conversam, entre silêncios confrangedores. Um sente-se o filho mal-amado, tendo sofrido represálias que considera injustas, o outro teve a seu lado um amigo, apoio nas horas difíceis, dias felizes. De facto, quem era este homem? Quem conheceu o seu lado real? As circunstâncias da vida terão invertido a personalidade do homem? Aparentemente, duas pessoas diferentes. Um pai manipulador, um idoso adorável…
Um livro profundo lido num sopro. As palavras ganham dimensão e poder. A morte que traz verdade e mentira sem localização temporal; a morte, a grande senhora, que divide a dor e não quer culpas. As relações humanas de uma vida colocadas a nu nas fragilidades, no amor e no ódio, nos desentendimentos, nos medos, nas humilhações, nas agruras, no desconforto, nas partilhas, nos afectos, nas amizades…
A Andreia foi corajosa por pegar no tema e tratá-lo sob este prisma; a Andreia é corajosa porque cresceu a escrever e cresceu tanto na escrita, que lhe reconheço e admiro a capacidade incrível para me surpreender... toca onde há mágoa, toca onde há amor.
As pausas, a posição corporal, as palavras dos diálogos que a determinado momento são bolas de pingue-pongue: virtudes, defeitos, qualidades… Quem perdeu? Quem ganhou?
Frases que sublinhei:
O ódio foi o passo decisivo que dei antes de desistir do amor.
Roubava-me a esperança, a vontade de estar vivo.
Há pessoas que morrem cativas do passado e do que permitiram que os outros fizessem delas.
Despedir-me de um corpo morto serve para quê?
Não se simulam os dias felizes.
grande livro.
ResponderEliminar<3 querido, querido João!
EliminarObrigada, querida Cristina. As tuas palavras emocionam-me. É uma felicidade o nosso encontro e uma leitura como a que fizeste. Que nos reencontremos muitas vezes e que tardemos muito a dizer adeus. Abraço apertado, generosa companheira de escrita, de leituras, de editora Minimalista e do que mais importa: da vida vivida em conexão com os nossos.
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