domingo, 30 de junho de 2024

Verão outonal

O Verão anda arredado
insatisfeitos, os turistas
aguardam, perfilados
como pranchas,
pelo raio de sol na onda do mar...





sábado, 29 de junho de 2024

3, 2, 1...

Dos passos que iniciam mudanças...





sexta-feira, 28 de junho de 2024

Natureza

Traz Outono à nascença
E veste verde-Verão no virar das folhas.
Natureza...





quinta-feira, 27 de junho de 2024

Chão

As esperas são feitas de chão
e de olhar imerso em luz...





quarta-feira, 26 de junho de 2024

Ao longe

Que longe alcança o meu olhar?





terça-feira, 25 de junho de 2024

Vai um café?

Uma mente inquieta nunca adormece, apenas abranda e observa...





segunda-feira, 24 de junho de 2024

Canto

Ali, no canto dos deuses,
as melodias iluminam as horas
e o corpo dança-se...





domingo, 23 de junho de 2024

Abstracto

Inquietação matinal:
a hora da luz e das sombras.


sábado, 22 de junho de 2024

E quando acabarem as perguntas?

Em Abril de 2022, Paulo Kellerman surpreendeu-nos com o lançamento de um livro de poemas; depois de tudo o que escreveu ao longo de mais de vinte anos de vida literária, a poesia constituiu um desafio. Quem conhece o Paulo sabe bem o que traduz a palavra desafio:
c o n c r e t i z a ç ã o.

E quando acabarem as perguntas?, continua a ser um livro espantoso: não perdeu a essência do questionamento, do remexer no que dói, do despertar de emoções, da provocação do pensamento.
Continuo a folheá-lo, releio as palavras, procuro e entro nos sentidos, inquieto-me com os lugares para onde os pensamentos me levam; de lá, trago ainda mais questões sem respostas, aguardando pelas viagens interiores. Cada nova leitura, é uma descoberta.

Ana Gilbert, exímia criadora de novos sentidos, pegou no livro de Paulo Kellerman e transformou-o: reimaginou tudo.
And when the questions are over? REIMAGINED é um belíssimo livro-objecto  de encadernação artesanal, construído com experiência, sentimento, partilha e cuidadosa dedicação na concepção; cada exemplar é um tesouro.

A transformação deu-lhe pele, toque, um outro olhar, materializou os sentidos. A Ana reescreveu o livro ao trazer a poesia para a língua inglesa e nas palavras que fotografou, nasceram novas imagens, que muitas vezes completaram aquelas que eu tinha formado durante as minhas leituras.Foi uma viagem sensorial incomparável aquela que fiz quando abri o livro e permiti que os dedos percorressem suavemente a textura da capa e as nervuras da lombada, a rugosidade das folhas que foram expandindo sensações; as emoções saltaram com o encontro visual das fotografias,belas e equilibradas, desafiadoras e arrebatadoras.

Porquanto os textos, as imagens, as texturas, os pensamentos despertados pelo livro fossem absolutamente incríveis, ao transporem música e voz para os poemas, o patamar do sublime foi atingido.

Não foi só o impacto visual, não foi só o tacto que fizeram a diferença. Com este passo, tornaram audíveis quatro criações do poeta, a voz de Paulo Kellerman fez-se ouvir dando corpo aos poemas, os quais foram acompanhados pelas espantosas composições musicais de Paulo Vicente (POROS), um criativo das sonoridades e das melodias.

Tenho um objecto único; cada exemplar é, sem qualquer dúvida, um belíssimo tesouro.
Parabéns pela vossa obra.


Nota:
o design é de Licínio Florêncio, a impressão de Arte Ampliada e a encadernação artesanal é de Eliana Yukawa|Yume Ateliê & Design.


















sexta-feira, 21 de junho de 2024

Branco

À sombra, um agapanto branco assoma:
- Que contas do teu canto?
Pouco, apenas o espanto das coisas belas!





quinta-feira, 20 de junho de 2024

Efémera

É tão efémera a beleza...

Ao terceiro dia de floração,
nada mais restava,
além de um indecifrável e mirrado corpo.

E durante um dia foi estonteante...




quarta-feira, 19 de junho de 2024

Primavera

Primavera em despedida...





terça-feira, 18 de junho de 2024

Tocar

Tocar as margens do céu,
a manhã cresce.





segunda-feira, 17 de junho de 2024

Banalidades verosímeis

Banalidades verosímeis, é o quinto e mais recente livro de Francisco Resende, editado pela Nova Mymosa.




Não foi preciso ler muito para perceber que são poucas as casualidades que me perpassam sem deixar marcas; hoje cheguei às banalidades mais profundas pela escrita de Francisco Resende.

De repente falta-me chão e as palavras, a pessoa que pensa não se pode levar a sério e os pregões de uma vida ficam ali expostos na luz e na sombra de uma estória, que pode ser de A., como em muitas linhas pode ser de C., de T., de G., ou então, fantasiando, a nenhuma delas pertencer.

Neste livro, cuja leitura iniciei numa manhã de Sábado, a escrita de Francisco Resende estava a ser intensa, cheia de imagens e viagens saboreadas numa vagareza morna ao sol; a dada altura, parei. O horizonte era uma mentira ambulante e havia o absurdo de um futuro impossível.

Aqui, a insatisfeita criatividade e a vontade de saber, levaram-me a procurar o passado na simplicidade única do tenham uma boa vida.

Procura-se um sempre, não é? Há portanto um sempre em cada um de nós, pronto a ser vivido e no espaço onde se pode libertar o que sou, há acordes que apenas ouço no meu pensamento, não sabendo se é o passado que acorre a mim, ou se sou eu que vou à procura do que poderia ter sido vivido intensamente.

Contagiam-se as palavras, abrem-se, veneram-se e a existência transforma-se no sonho do senhor Greenwich: torna-se escritor. As linhas ganham possibilidades, aparecem rasuradas, inteiras, estéreis, sobrevivem ao predestinado fracasso. A Poesia permanece inteira, única.

O Terceiro Acto, imagino-o; há ali um lugar por preencher. Mea culpa. Recuperar-se-á o tempo nunca perdido para ler. E se agora como um conto for em breve leitura para o meu regaço, acredito que as letras que o compõem, serão o que quiserem ser.

Refúgios, cicatrizes, êxtases, essência, proibições, disfarces, fingimentos e o acaso a ser um sempre. Não me resta muito mais deste delírio incompleto; a música é um mundo perturbador dos sentidos, inebriante, mesmo quando resulta na eterna canção dos três acordes.

E desse sonho que (sempre) fica, obrigada Francisco, pela maravilhosa viagem que marca a diferença entre a saudade, a insatisfação e a possibilidade de acontecer.




domingo, 16 de junho de 2024

O Recuar das Águas

O Recuar das Águas, é o quinto e mais recente livro de Mónia Camacho, editado pela Nova Mymosa.





A invenção entretém a morte.
Assim começam o livro. As personagens surgem em catadupa, alegres, coloridas, com sentido de humor. Vão deixando um rasto de ternura, de empatia.

Deparo-me com diálogos e momentos divertidos onde vai surgindo o mote da narrativa: os idosos e as suas dificuldades, a necessidade que têm de comunicar e de ter quem os escute, apoie e esclareça, de sentirem que são úteis e não um peso para a família e amigos, de saberem que podem amar e serem amados; de serem vaidosos se assim quiserem; subtilmente é abordada a importância das relações intergeracionais, de como podem influenciar e beneficiar a saúde física e, principalmente, mental dos mais idosos.

Mas nada disto é evidente no imediato, descubro conforme prossigo na leitura: um coro de velhotas animadas, faladoras, cheias de ideias e até manhas. Irónicas. Encontros, relacionamentos, amizades, cumplicidades. Fascínio.

A idade é um contra-senso, escreve a certa altura. A vontade de contrariar o estado actual é grande e o equilíbrio será possível se, em larga medida, houver abertura e movimentos nesse sentido. É possivel... Está a acontecer…

A escrita da Mónia tem a poesia sempre presente, é um cunho muito pessoal e característico, há musicalidade nas frases que reinventa, há subtis referências cinéfilas. Procura o imprevisto e ele acontece; a Mónia ousa e tem tesão ao escrever. Não é apenas com este livro, é com toda a obra que lhe conheço e que tem criado até hoje.


Frases que sublinhei:

Não saber faz parte de estar vivo.

As máquinas mentem?

E os dias não paravam a ver montras.

Ainda mais difíceis agora que era velha. E embora já o fosse há algum tempo, ainda não se habituara.

Vais ter um desconhecido a viver contigo com a tua idade?

O que é que importa? Sempre me faz companhia.

Mas todos sabemos que o recuar das águas traz sempre uma fúria maior logo a seguir.

A velha era tudo o que as velhas não são.

Talvez fosse para isso que ali estava. Para lhe vigiar o tempo que faltava.

- Vê se não morres já, que a Luzia vai passar cá amanhã.






sábado, 15 de junho de 2024

Pesar o adeus

Pesar o adeus, é o quinto e mais recente livro da Andreia Azevedo Moreira, editado pela Nova Mymosa.




Um velório é o sóbrio palco desta surpreendente peça em que a vida e a morte de um homem tomam o protagonismo; o corpo inerte no caixão já nada é; o falecido foi pai, o falecido foi amigo. Na hora de dizer adeus, dois homens conversam, entre silêncios confrangedores. Um sente-se o filho mal-amado, tendo sofrido represálias que considera injustas, o outro teve a seu lado um amigo, apoio nas horas difíceis, dias felizes. De facto, quem era este homem? Quem conheceu o seu lado real? As circunstâncias da vida terão invertido a personalidade do homem? Aparentemente, duas pessoas diferentes. Um pai manipulador, um idoso adorável…

Um livro profundo lido num sopro. As palavras ganham dimensão e poder. A morte que traz verdade e mentira sem localização temporal; a morte, a grande senhora, que divide a dor e não quer culpas. As relações humanas de uma vida colocadas a nu nas fragilidades, no amor e no ódio, nos desentendimentos, nos medos, nas humilhações, nas agruras, no desconforto, nas partilhas, nos afectos, nas amizades…

A Andreia foi corajosa por pegar no tema e tratá-lo sob este prisma; a Andreia é corajosa porque cresceu a escrever e cresceu tanto na escrita, que lhe reconheço e admiro a capacidade incrível para me surpreender... toca onde há mágoa, toca onde há amor.

As pausas, a posição corporal, as palavras dos diálogos que a determinado momento são bolas de pingue-pongue: virtudes, defeitos, qualidades… Quem perdeu? Quem ganhou?


Frases que sublinhei:

O ódio foi o passo decisivo que dei antes de desistir do amor.

Roubava-me a esperança, a vontade de estar vivo.

Há pessoas que morrem cativas do passado e do que permitiram que os outros fizessem delas.

Despedir-me de um corpo morto serve para quê?

Não se simulam os dias felizes.





sexta-feira, 14 de junho de 2024

Soltos

Asas que se abrem
ramos que se soltam
as raízes serão sempre casa...





quinta-feira, 13 de junho de 2024

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Sempre

Ascendes mais um degrau na caminhada que é longa... sempre aqui.





terça-feira, 11 de junho de 2024

Desenhar

De um lado mais rasteira,
escondida...
Vai crescendo,
desenha-se.
Sombra e luz,
qual delas?







segunda-feira, 10 de junho de 2024

Entrada

À porta do desconhecido, a hesitação...
Haverá tempo para arriscar?




domingo, 9 de junho de 2024

Realidade

Aquela que não se vê...





sábado, 8 de junho de 2024

1500

Fotografar e escrever: actos solitários e corajosos.

(Publicação 1500)





sexta-feira, 7 de junho de 2024

Sossego

Procuro o sossego
no intervalo dos lugares.
Surpreendo-me, sempre.








quinta-feira, 6 de junho de 2024

Pausa para...

Ser vento na fuga
Ser árvore no abraço
Ser poeira na curva da estrada
Ser...




quarta-feira, 5 de junho de 2024

Réstia

De repente,
uma sombra desconhecida...

E durante quinze anos
lado a lado caminharam,
tantas vezes quis agarrá-lo,
ele, fugidio, escapava.
Ela, a rede estendia
ele, pela família, lutava...

Hoje, a luta cessou,
a paz chegou-lhe ao corpo.
Chora-se a saudade
e no rasto permanente de luz,
fica a ténue esperança:
o amor tudo vence.

Vence, acredito que vence...




Para o Firmino Marques, um ser excepcional


terça-feira, 4 de junho de 2024

Intervalo

No meu ajardinado intervalo,
um melro canta alegre liberdade...





segunda-feira, 3 de junho de 2024

Lado

De que lado fica a saudade?
Que vozes guardam estas pedras rugosas?
Há casas de pertença...





domingo, 2 de junho de 2024

Voltar

Que bom que voltaste,
diz-me o ranger do degrau.

A que lugar pertencemos?
(quedo-me pensativa)
Ao lugar das memórias que sonhámos,
ao presente de rotina-que-cansa,
ou àquele que ainda será?
E se nenhum destes for?

Seres errantes habitam-me...





sábado, 1 de junho de 2024

Lugar

Procura-se, na incerteza,
o lugar de pertença.