quarta-feira, 30 de novembro de 2022

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Brevidade

- Espera um pouco! É só mais uma!

(Respira vagarosamente, aguarda.
Liberta os pensamentos e divaga...
Os momentos são entusiasmos e esmorecimentos, são palavras estendidas ou apagadas, são vozes e silêncios, são alegrias e desalentos, são fotografias e rabiscos, são telas e dedos com tintas.
Estremece e retorna...)

- Espera um pouco... é só mais esta!


(O que resta de um momento fugaz)





domingo, 27 de novembro de 2022

Fugir

É divertido observar o comportamento dos pilritos.
Testam os limites de aproximação às ondas
para depois se colocarem velozmente a salvo.
Muito peculiar este comportamento...





sábado, 26 de novembro de 2022

Momento

Na onda que quebra
serena a ânsia...
a tempestade espraia-se,
belo e fugaz
o instante.

E o mar volta a enrolar...






terça-feira, 22 de novembro de 2022

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

E se...?

De repente recebo uma mensagem:
- Vai estar em casa? É que tenho uma entrega de flores para fazer nessa morada.

À mudez inicial, a confirmação da presença.

A vida é uma surpresa e os afectos são inegáveis!
Todos os dias são especiais.
O meu sorriso é enorme...
Obrigada!





domingo, 20 de novembro de 2022

Ao Domingo

Existem janelas com encanto,
outras com estórias e memórias...
Diversas são as janelas
em tamanho e quantidade.
E há a janela do aconchego e do afecto,
quando os Domingos são dias de abrigo...





quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Renascer

Encontrar a linha-guia para estabelecer o equilíbrio...
Caminhos feitos de encruzilhadas, pessoas e momentos.

Entre a terra e o mar, um dia que renasce...




terça-feira, 15 de novembro de 2022

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

domingo, 13 de novembro de 2022

Memória

Três anos.
O rio parou.
O tempo teve outra consistência.

Quarenta e dois dias.

O rio retomou-se...
e sorri ao meu lado.





quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Ópera na Prisão

Olho para a folha branca; talvez a preencha.

Não é a primeira tentativa, espero que hoje seja a última.

Inacabadas as anteriores, fui sempre incapaz de deter o tempo, de reter os momentos, de transpor para as palavras as emoções vivenciadas.



Outras vidas, outros mundos… na verdade, calçar os sapatos do outro nunca foi tão difícil.

Escrever sobre o que vivi e senti nas duas actuações do Projecto Traction – Ópera na Prisão revelou ser um desafio.

A decisão de assistir aos dois espectáculos foi quase imediata, muito por acreditar no trabalho literário do Paulo Kellerman, neste caso como libretista, mas também pelo projecto social que representava e do impacto que teria em outros quadrantes: pessoal, artístico, tecnológico.

Muitos artigos e opiniões foram lançados e divulgados em vários meios da comunicação social, antes e depois, pelo que agora resultaria extemporâneo dissecar pontos técnicos relativos à criação musical e ao seu enquadramento, ou ainda questões práticas e de investigação visando o lado sociológico e interventivo do projecto.





Naquela manhã de Junho, o percurso até ao estabelecimento prisional de Leiria-Jovens foi realizado entre a curiosidade e a apreensão: nunca estivera num lugar assim. A distância que mediou da portaria ao local final de estacionamento, teve um papel preponderante na forma como encarei o que se passou a seguir, com o evidente peso do isolamento e o afastamento das possibilidades.

A revista policial realizada à entrada, a caminhada feita praticamente em silêncio através dos edifícios e oficinas, percepcionando os espaços; como fotógrafa maravilhei-me com a magnífica luz que banhava determinadas áreas e objectos e com a frustrante sensação de ausência de equipamento para captação de imagem. Pormenor insignificante ao considerar o lugar onde me encontrava, com retratos de jovens reclusos espalhados em diferentes pontos, portas e janelas traduzindo tempo, passagem, possibilidades, uma finalidade, a liberdade.

No edifício da tanoaria estava instalada a “sala” de espectáculo: as cadeiras alinhadas e distribuídas da melhor forma para ocupar o espaço e permitir visibilidade para o palco improvisado, grande parte ocupada pelos espectadores, a orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian aguardava com evidente ansiedade, a equipa técnica ultimava pormenores; maestro, encenador, libretista com notório nervosismo…



O TEMPO (somos nós)

(decorria a ópera, absorvia os momentos, percepcionava as mensagens, fixava códigos, ampliava emoções)

Os músicos, os solistas, todos os participantes deram de si; os reclusos entregaram-se à música, à interpretação, ao momento, à expressividade, crescendo mutuamente; os convidados partilharam e participaram da transformação; aproximaram-se e envolveram-se.

A viagem, há sempre uma viagem…

O papel primordial da música como desafio e resiliência na forma de crescer, apoiar e minimizar os erros cometidos (por nós e pelos outros); a arte e a co-criação no desenvolvimento e na superação; o crescimento da dimensão humana e da liberdade como possibilidade…

Momentos que rasgaram credos, que causaram dilúvios, que na envolvência do que comoveu e transformou, abriram a dimensão da afectividade e do esforço mútuo.



Ao abandonar o estabelecimento, o primeiro percurso foi realizado pelo exterior, a pé, já longe da inicial intimidade, com os espaços a serem outros, mais áridos, cerrados e controlados; um campo de futebol significaria mais espaço, mais liberdade: aqui, perturbou-me o arame farpado, as vozes encerradas e sem saída; o apelo de permissão, a evidente tristeza.



O tempo somos nós que o fazemos em actos, na nossa disponibilidade para com os outros. O tempo só existe quando lhe dizemos para existir… e é um facto, manipulamos, enganamos, seduzimos.

E nada voltará a ser como antes….





Meados de Junho, viagem de comboio até Lisboa, arrastando a amiga Anabela Gonçalves e a minha filha. Fundação Calouste Gulbenkian.

Cá fora, a liberdade e a exuberância dos jardins, espaços de arte e sentir.





No interior, a grandiosidade da sala e a tecnologia envolvida, com reconhecida evidência do sucesso do projecto junto do público presente, das famílias participantes; da aproximação e partilha, rompendo com o que havia de mais tradicional na ópera: a criação e visionamento de linguagem artística em evidente fusão com novas formas e universos, com os solistas e jovens reclusos a formarem uma ligação coesa e de esforço em prol de um tempo que se quer livre e único; que lhes permitissem recolher momentos e memórias das suas próprias capacidades, das possibilidades de reintegração; manter a esperança e a cumplicidade do tempo, acreditando num futuro colectivo e individual.








Penélope e Ulisses, a história, as palavras: porta, resistência, pressões, amor, escolhas, resiliência, dualidades, decisões, tempo, possibilidades, crenças.

O resultado foi apoteótico; emocionalmente forte. Grandiosidade no aplauso colectivo.








Da porta que me foi aberta, a viagem realizada pelo meu tempo, pelas minhas memórias e experiências; as possibilidades e partilhas dos outros, o tempo e a aproximação; os afectos e a transparência emocional; o valor da família, o peso do amor e da esperança.



Da ópera, a memória… do tempo que somos em sociedade, do tempo que sou em mim e no tempo dos outros; a construção, o crescimento e a transformação revelados nas marcas profundas que ficaram no pensamento e na aprendizagem constante de como calçar os sapatos do outro. Não é fácil…







quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Evocar

A métrica dos sentidos.
 

Resgata memórias,
recortadas aos contornos de luz,
subtrai e divide,
restando a importância dos dias menores.





domingo, 6 de novembro de 2022

Até ao mar

Por estes caminhos d' água
escreve-se mar na foz,
onde o sal é mais intenso
e o embate é feito de espuma
nos navios da saudade.
Lugar sem tempo, ponteiros estacados
Respirar silêncio, âmago lento...
Ontem e hoje, o que são?
Memórias, intentos, ilusões.
Entre o céu, o sal e o amor
a essência natural
do que há-de ser...


Para ti, Sophia...






quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Porta

Rangem as dobradiças,
fio de luz que estremece.
Empurro devagarinho,
o outro lado é meu,
(espera-me)
límpido e cheio de sol.