segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

domingo, 29 de janeiro de 2023

Silêncio

Silêncio.

Realidade invertida
espaço dolente,
corrente...
Tempo errante
da nascente até ao sonho.

Silêncio.





sábado, 28 de janeiro de 2023

Ser vento

Ser vento
sem limite,
voar
sem pousar,
seguir.
ir para sentir...
Haverá sempre um lugar-emoção.




sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Cordas

Da minha janela divago o olhar:
encontro três cordas
e a natureza que cria melodias
em balalaica improvisada...
Pensamento enfeitiçado,
vento apelativo,
carícias no rosto...
Encanto-me e sonho.





terça-feira, 24 de janeiro de 2023

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Colo de luz

Em sossego,
vem...
Vem repousar no meu colo
curva de luz desenhada,
vem
no desnudar lento
e silencioso das pétalas.





domingo, 22 de janeiro de 2023

Estendal de memórias

Uma manhã deixou as memórias no estendal. Saiu por pouco tempo. No regresso, a desilusão. Um vendaval levara tudo. Caíra o véu do esquecimento.

in "Até ao dia dos girassóis", Cristina Vicente

Uma edição MINIMALISTA






sábado, 21 de janeiro de 2023

"Do lado que arde", de Mónia Camacho



Com este Do lado que arde de Mónia Camacho, dou por mim a estabelecer uma relação simbiótica com muitas das ideias e pérolas (como ela costuma dizer dos outros) que nele estão contidas; sinto o(s) meu(s) eu(s) em muitas delas.
A relação que tenho com a memória, com as palavras e os lugares, com simbologias e coincidências, com gestos e vozes, transforma-se numa catadupa emocional ao longo das páginas e das personagens que vão aparecendo, cada uma no seu papel e intensidade.
Ao longo da leitura e na maneira tão peculiar de escrever que a Mónia tem, a minha identidade é questionada das mais diversas formas, já que ter nome é mais importante do que supunha, como um ponto de partida do eu, seguindo-se tudo o que lhe está agarrado (genética, memória, vivências em família e em sociedade) e que me torna num ser cuja individualidade está a ser recorrentemente (auto)contestada.
A inquietação acicata; o destino prega partidas; a memória cria outras memórias, reescreve-as, estendendo uma teia de promessas no futuro. Porém, quanto de mim fica por deslindar?
Destaco diversas ideias das duas leituras que fiz do livro: um momento de conveniência é a amnésia; a dualidade do ser, colide e desmantela emoções; a arte surge salvadora, mas sê-lo-á de facto? Ou poderá ser um lugar de não-pertença? E o tempo vai passando: envelhece-se. Será apenas fisicamente? O que sei de mim é apenas memória?
Neste maravilhoso “livrinho” da Mónia Camacho encontro um manto de possibilidades exploratórias do ser e da sua identidade, das emoções e do relacionamento com os outros; sem dificuldades, induzo as imagens desta escrita bela, profunda e instigadora.

Por tudo isto e muito mais do que há para descobrir, obrigada querida Mónia.











sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Inventar

Inventar o entusiasmo
na inversão da realidade,
acreditando no que se vê
ou nos devaneios da imaginação?





quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Reflexos

Bebo paixão dos instantes,
não das promessas...
Respiro textura da pele,
não das ausências...
Acaricio olhares profundos,
não banalidades.

Reflexos de nuvens.





quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

domingo, 15 de janeiro de 2023

Forjado

Início de ferreiro na forja
pancadas fortes, modelando,
mais tarde aberta:
Vidas dentro, vidas fora.

Nestes dias apressados,
o tempo cobre de tempo curvas,
recantos e solidão,
rouba cor deixando pó
e tece envelhecidas teias ao relento.
Esquecida na harmonia azulada,
corrupio de gente apressada...

Nada mais fica,
tudo o resto, retorcido de saudade.





quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Mil e três palavras

Procrastinar poderia ser uma óptima palavra para um conhecido dicionário improvisado, mas não é esse o objectivo destes breves escritos: serão antes palavras fora de tempo e do momento, por isso será melhor dar-lhes alguma consistência.

“Mais vale tarde do que nunca”, lá diz o provérbio. Sim, também há um vinho, só que não…

Na verdade, nunca imaginei que a compra de dois bilhetes para uma peça de teatro pudesse levar, semanas mais tarde, a uma noite tão recheada de episódios animados e, porque não, caricatos.






Do enquadramento

Nome da peça – “Noventa e dois por cento”
(espectáculo inserido no CenOurém)

Data – 12 de Novembro de 2022, 21h30

Local – Teatro Municipal de Ourém

Interpretação – Grupo de Teatro Apollo, do Centro Recreativo de Pedras Ruivas

Texto – Paulo Kellerman



Dos factos

Leiria, 12 de Novembro, 20h45

À hora combinada e sentada no carro com a minha filha, aguardava que as minhas passageiras descessem. Tique-taque o relógio avançava. Tique-taque nem sinal delas. Tique-taque, 21h. Começava a ficar preocupada quando apareceram.
Entre sair da cidade, seguir as instruções de quem sabia o caminho e olhar para o GPS, enveredamos pela estrada nacional para Ourém. Engano ou excesso de confiança? Até hoje, não sei…

(Quem conhecer esta via e estiver a ler isto, saberá do que falo)

Uma estrada cheia de curvas, a noite escura como breu e de quando em vez, uma lua cheia brilhante assomava entre as árvores e as nuvens; enquanto conduzia, fazia saltar os olhos da estrada para o GPS (que estava muito “queixoso”) , ou para o relógio e pensava que não íamos chegar a tempo.

A velocidade, confesso, estava desfasada da realidade… a certa altura ouvi:
- Cristina, que apito constante é este?
- É o GPS que avisa do excesso de velocidade. Tenho que acelerar para chegarmos a tempo e mesmo assim, não está a dar para recuperar.

Não estivessem a acontecer estes imprevistos, nada se passaria de relevante, estaríamos a conversar animadamente sobre os mais diversos assuntos, pois as conversas são como cerejas... De repente um obstáculo, um rubro “papa-reformas”. Revirei os olhos… Naquele percurso de longos traços contínuos, foi sinal de atraso. Perdi o tempo, ainda que escasso, que conseguira recuperar; até a miúda dizia: “Senhor, vá para casa ver futebol.”.

Recorri a medidas extremas e ultrapassei-o. O GPS não tendo forma de se queixar daquela manobra, retomou a cantoria pela velocidade.
Estávamos a chegar; já era visível a luminosidade do casario citadino e recuperava a esperança. Subitamente, na rotunda, luzes azuis intermitentes de meia dezena de viaturas: uma operação STOP da GNR.
- Hoje não! Hoje não! – pedi mentalmente enquanto passava pelos agentes. A sorte protegera-me, não pela audácia, mas sim porque estavam ocupados com outros condutores.

Com a cidade em obras, mais um contratempo. Consegui estacionar muito próximo do teatro e depois de uns passos corridos, estava finalmente a sossegar. Puro engano. Na validação dos bilhetes o aparelho de leitura deixou de funcionar. Após verificação, mantinha o problema. Se eu dizia palavrões? Sim, alguns, mas no recato dos meus pensamentos.

Tique-taque, tique-taque: faltavam quatro minutos para a hora do espectáculo.
Depois de mais um apito (este bem diferente dos que ouvira durante a viagem), estava finalmente validada a minha entrada e respirava de alívio, depois da quantidade de peripécias vividas em tão pouco tempo.

Mas atenção, que isto ainda não acabou.
Ao descer em direcção ao meu lugar, com uma outra funcionária a perguntar-me se precisava de ajuda, desequilibrei-me; pareceu-me até que um degrau da escadaria tinha um distanciamento diferente. Salvou-me o braço firme da minha filha, evitando-se desta forma um número de circo comigo a ficar estendida no chão.
Sentei-me. Suspirei. Com calma, comecei a olhar à volta, nos poucos segundos que ainda restavam para dar início à peça. Apagaram-se as luzes.



Da peça

Uma apresentadora do noticiário televisivo quebra em direto: interrompe a leitura da notícia, começa a chorar e abandona o estúdio. Porquê?
(excerto da sinopse)

A partir daquele instante desfilaram em palco personagens, estórias, dramas pessoais e momentos que me prenderam totalmente a atenção.
Da encenação (Dora Conde) à representação (Grupo de Teatro Apollo), ambas soberbas, passando pela forma magistral como o texto foi escrito pelo Paulo Kellerman, dei por mim no questionamento de atitudes e no confronto com os meus próprios dramas e melancolias; e de como é mais fácil falar dos outros, fugindo-me dessa maneira.

Trazer para o palco o mundo do pequeno ecrã, dos momentos televisivos que acontecem e que estão diariamente presentes na vivência de cada um de nós sempre que nos conectamos, é um acto de coragem e de grande sensibilidade. Percepcionar o outro como ele é, deixar de lado rótulos, ideias pré-concebidas, é evidenciar a necessidade e a importância da capacidade de sentir empatia pelo outro.
Desengano-me da facilidade de tal pensamento: por vezes falta-me a vontade e a perspectiva para o fazer; ignorar ou disfarçar, resolve.


Com “Noventa e dois por cento” somos levados a gerir a nossa empatia, colocando-nos no lugar do outro, numa tentativa de compreensão do ponto de vista alheio, dos meandros emocionais e das sensibilidades.
Vivemos a correr e, quase sempre, demasiadamente focados nas próprias perspectivas, ignorando a sensível, e tantas vezes complexa, realidade das pessoas que nos rodeiam.

O talento e brilho dos actores, o profissionalismo e perfeccionismo dos detalhes, nada estava descurado no cenário e que era reforçado com entradas subtis de elementos que enriqueciam os diálogos e sobretudo os silêncios, dando abertura a que pudesse centrar o pensamento e dar liberdade às emoções.

Ao longo do espectáculo ri imenso e chorei na mesma proporção (o que não é difícil). Comoveu-me a participação da Ti Irene, de 98 anos, com a sua voz previamente gravada, representando a personagem da avó e corporizada através de uma marioneta que esteve sempre no palco.


No final foram projectadas as ilustrações que a Maria, filha do Paulo Kellerman, realizou em tempo real durante um dos ensaios a que assistiu: um belíssimo trabalho.

Muita coisa ficou por dizer, mas não por sentir.

Regresso pela mesma estrada…









terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Caminhada

Qual o sentido de uma caminhada?
O que norteia uma decisão?

Há sempre um pensamento-parede...




segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Mil e um

Mil e um abraços frondosos
nas horas de absurdos silêncios.
Sento-me nas raízes do tempo
e escuto a seiva que te habita, viva.
Escuto-me.
Hoje o céu está azul...





domingo, 8 de janeiro de 2023

Mil

Várias mãos-cheias serão necessárias para contabilizar as publicações nestes quase três anos de blogue (Abril 2020).
Haver uma publicação diária soa um pouco a obrigação; talvez, não sei. Porém, o blogue constitui um compromisso para comigo por representar momentos, pensamentos, emoções, pessoas e lugares significativos na minha vida.
Por agora, faz sentido; quando assim não for, a solução será simples: pausa.

Obrigada a quem me visita, seja pela fotografia ou pela escrita, ou por ambas.




quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Sinfonia

A noite acordava e as notas faziam-se ouvir,
tangidas nas cordas de beleza.
Prazer visual...





terça-feira, 3 de janeiro de 2023

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Luz matinal

Os silêncios da casa acompanhavam o cinzento e chuvoso Inverno dos últimos amanheceres.
O sol desaparecera havia dias, assim como os rabiscos e contornos de luz.
Acordar com uma surpreendente parede iluminada, arrancou-me um sorriso: voltou.
Bom dia!





domingo, 1 de janeiro de 2023

2023

Lá fora, a chuva caía copiosamente e os minutos cumpriam o seu tiquetaque.
O interior silencioso; encostou-se à janela.
Lá fora, a chuva e o vento continuavam em rodopio. Inverno.
O fogo-de-artifício estalava, colorido e antecipado, na breve pausa da chuva.
Às doze badaladas, um novo ano.
Lá fora, a chuva retomava o seu ritmo...