Último

Sentada aos pés da cama contemplo a tela à minha frente.

São os últimos minutos de 2023.

Capturo o momento e deixo a imaginação à solta.

Talvez encontre motivos e temas para novas escritas.

A paisagem à minha frente respira...

Faltam poucos segundos.

5, 4, 3, 2, 1... eis um ano a estrear!

Impulso

Por impulso, parei o carro; saí.

Caía uma chuva miudinha e de capuz na cabeça atravessei a estrada, subi lentamente os degraus e transpus a porta.

Lá dentro, um mundo de silêncio. O ar gélido e a luz mais ténue alimentavam o ambiente, sentei-me no último banco corrido. Aconcheguei o casaco.

Durante vinte e poucos minutos ali estive, imóvel, a ouvir-me. As vozes interiores não perturbavam, apontavam apenas possibilidades, equilíbrios, caminhos, olhares...

O fascínio pelo silêncio foi interrompido pelos passos arrastados de uma mulher, devota nos gestos e na orações em surdina. Uma mulher de fé...

Quebrado o momento, nada mais me prendia, o silêncio partira. Levantei-me e saí.

Na rua, o burburinho mantinha-se; a vida prosseguia.

Lago

Crescem árvores no lago

onde há chão de céu

e brisa de cetim.

Instantes à chuva

Chuva que cai

imaginação que voa

nem tudo é o que parece

e são tantos os lugares-comuns.

Os instantes únicos,

originais,

vívidos

vivos

são inimitáveis.

De que lado?

Mãos nos bolsos,

arrasta os pés sujos de lama,

olhando a água parada.

De que lado chegará a vida?

Orvalho

Horas livres,

vastos campos,

sonhos orvalhados na pele.

Parede de tempo

Silencioso, o tempo cresce nas paredes desbotadas.

Brilhos

Efémera noite de tantos brilhos...

Dias em mim

De todos os dias que trago em mim,

guardo-os na íntegra,

principalmente os de liberdade.

Ontem e hoje

Dias anteriores que passaram...

e o Outono já foi.

Ao Inverno de trabalho e vontade para criar!

Hoje foi um dia bem bonito...

Um a um

Os degraus do que caminho

ficando o passado nas memórias...

Futuro.

Na verdade o que é isso?

Como se constrói o futuro?

Olhares na ponta da mão

Olhares e sonhos...

Cristina Vicente

Elsa Arrais

Cascata

Entra,

vagarosa manhã

cascata de luz,

oblíquo Outono.

Pressa

Conversas deixadas à pressa, incompletas...

Como incompletos ficam os dias.

Errante

No silêncio translúcido,

errante é a luz

que,

trespassando cristal anónimo

reflecte mais além,

ousando aproximar-se da imperfeição.

Segue suavemente,

sente

e em êxtase

contempla cada círculo formado.

Errante, será sempre errante...

Pausa no dia

Desenhando telhados em reflexos alheios.

Água

Raízes d'água

mesmo que o chão vacile

os sonhos permanecem,

reflectidos e únicos,

na ordem caótica da realidade.

Entardecer

Tarde oblíqua

revela espaço e vozes.

Sorrisos de entendimento...

Luz

Manhã crescente

surpresa de luz.

Fórmulas

Não existem fórmulas mágicas,

nem mezinhas...

Criar, é sentir o momento e o detalhe,

pressentir a dádiva da arte sem subterfúgios.

Do interior,

das sombras e memórias,

o eu reflecte-se livremente,

mergulhando sem engano,

no sentido das palavras, das imagens e dos silêncios.

E no fundo,

tudo não passa de tempo

contado no pêndulo das emoções...

Penumbra

Penumbra, doce abraço dos pensamentos.

Sandrine

Versatilidade na arte.

Beleza nas criações.

Um nome:

Sandrine Cordeiro

Céu

Um desvio matinal do percurso habitual.

Afinal, fotografar também pode ser procurar o invulgar.

Um céu de Novembro que me fascinou...

Noite

Brilhos natalícios transformam o lado de dentro das coisas.

Como é o teu lado de dentro?

Com que sombras te distingues?

Brisa

A brisa deforma o reflexo, agitando a superficie...

Pensamento que acompanha o movimento.

Azul

Salpicar nuvens no intenso azul e nele vaguear...

Ao sol

Reflexos vazios de gente,

tarde soalheira,

silêncio em mar revolto.

Ondas

Ondas de ideias...

Céu

O olhar eleva-se no rasto dos murmúrios:

o céu é habitado por deuses.

Dezembro

Maresia de Dezembro em tarde de sossego.

À janela

Na rua onde moro, o Natal espreita à janela.