Diário de quem ficou é o título da leitura encenada e criada a partir de textos de Paulo Kellerman e poemas de Cátia Ribeiro.
A estreia ao público aconteceu no dia 25 de Abril de 2023, inserida no festival leiriense Ronda Poética, na bela igreja de São Pedro, localizada no largo com o mesmo nome, junto ao Castelo de Leiria.
Tendo a guerra como temática principal do festival, os dois autores partiram dela para dar voz e destaque ao papel preponderante e tão invisível da mulher em tal cenário de ausência masculina (pai, marido, namorado, filho) e nos outros múltiplos papéis que também desempenhou, sempre em silêncio.
A leitura encenada esteve a cargo de Ana Padrão e Cátia Ribeiro, que interpretaram os textos de Diário de quem ficou, sendo acompanhadas por impactantes efeitos sonoros e musicais da responsabilidade de Pedro Cruz.
A forma como o espectáculo foi apresentado, demonstrou claramente a capacidade criativa e a longa experiência de Cátia Ribeiro que, além de actriz, foi ainda a encenadora. Um trabalho cuidado e original, baseado em factos e testemunhos recolhidos, não apenas junto de pessoas, mas também em registos e arquivos existentes afectos à Guerra Colonial, que faz parte da História de Portugal.
Os pormenores de decoração, a iluminação bem colocada, os momentos intimistas, os pequenos espaços onde as leituras foram realizadas, só por si, eram já pequenos mundos latentes e envolventes de emoção com as palavras que estavam a ser pronunciadas.
As actrizes estiveram sublimes nas mulheres, mães, filhas, poetas, lutadoras e desafiadoras que representaram; as vozes encheram as paredes da igreja, fizeram arrepiar o público, desamordaçaram pensamentos não só de antes, mas igualmente de agora.
Toda a recriação a que se assistiu, partiu de realidades, de existências, de vidas às quais foi suprimida a voz feminina e onde a dor, a solidão, o desespero, o desalento, a ausência, a tristeza, à rendição, as lágrimas, a convivência com a morte, deu lugar ao reerguer do amor, à salvação pela poesia, ao encontro de outras formas de expressão…
O Paulo Kellerman e a Cátia Ribeiro escreveram textos e poemas incríveis, são ricos e expressivamente fortes e é peremptória a necessidade de continuar a serem ouvidos, lidos, sentidos.
Aguardo com muita esperança e expectativa, a possibilidade de estar presente em espaço especial e assistir novamente a Diário de quem ficou. No período em que celebramos cinquenta anos de Liberdade, faz todo o sentido.
A fotografia que partilho é aquela que para mim representa o momento, o espaço e a força feminina.
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