terça-feira, 25 de junho de 2024

segunda-feira, 24 de junho de 2024

sábado, 22 de junho de 2024

E quando acabarem as perguntas?

Em Abril de 2022, Paulo Kellerman surpreendeu-nos com o lançamento de um livro de poemas; depois de tudo o que escreveu ao longo de mais de vinte anos de vida literária, a poesia constituiu um desafio. Quem conhece o Paulo sabe bem o que traduz a palavra desafio:
c o n c r e t i z a ç ã o.

E quando acabarem as perguntas?, continua a ser um livro espantoso: não perdeu a essência do questionamento, do remexer no que dói, do despertar de emoções, da provocação do pensamento.
Continuo a folheá-lo, releio as palavras, procuro e entro nos sentidos, inquieto-me com os lugares para onde os pensamentos me levam; de lá, trago ainda mais questões sem respostas, aguardando pelas viagens interiores. Cada nova leitura, é uma descoberta.

Ana Gilbert, exímia criadora de novos sentidos, pegou no livro de Paulo Kellerman e transformou-o: reimaginou tudo.
And when the questions are over? REIMAGINED é um belíssimo livro-objecto  de encadernação artesanal, construído com experiência, sentimento, partilha e cuidadosa dedicação na concepção; cada exemplar é um tesouro.

A transformação deu-lhe pele, toque, um outro olhar, materializou os sentidos. A Ana reescreveu o livro ao trazer a poesia para a língua inglesa e nas palavras que fotografou, nasceram novas imagens, que muitas vezes completaram aquelas que eu tinha formado durante as minhas leituras.Foi uma viagem sensorial incomparável aquela que fiz quando abri o livro e permiti que os dedos percorressem suavemente a textura da capa e as nervuras da lombada, a rugosidade das folhas que foram expandindo sensações; as emoções saltaram com o encontro visual das fotografias,belas e equilibradas, desafiadoras e arrebatadoras.

Porquanto os textos, as imagens, as texturas, os pensamentos despertados pelo livro fossem absolutamente incríveis, ao transporem música e voz para os poemas, o patamar do sublime foi atingido.

Não foi só o impacto visual, não foi só o tacto que fizeram a diferença. Com este passo, tornaram audíveis quatro criações do poeta, a voz de Paulo Kellerman fez-se ouvir dando corpo aos poemas, os quais foram acompanhados pelas espantosas composições musicais de Paulo Vicente (POROS), um criativo das sonoridades e das melodias.

Tenho um objecto único; cada exemplar é, sem qualquer dúvida, um belíssimo tesouro.
Parabéns pela vossa obra.


Nota:
o design é de Licínio Florêncio, a impressão de Arte Ampliada e a encadernação artesanal é de Eliana Yukawa|Yume Ateliê & Design.


















sexta-feira, 21 de junho de 2024

Branco

À sombra, um agapanto branco assoma:
- Que contas do teu canto?
Pouco, apenas o espanto das coisas belas!





quinta-feira, 20 de junho de 2024

Efémera

É tão efémera a beleza...

Ao terceiro dia de floração,
nada mais restava,
além de um indecifrável e mirrado corpo.

E durante um dia foi estonteante...




segunda-feira, 17 de junho de 2024

Banalidades verosímeis

Banalidades verosímeis, é o quinto e mais recente livro de Francisco Resende, editado pela Nova Mymosa.




Não foi preciso ler muito para perceber que são poucas as casualidades que me perpassam sem deixar marcas; hoje cheguei às banalidades mais profundas pela escrita de Francisco Resende.

De repente falta-me chão e as palavras, a pessoa que pensa não se pode levar a sério e os pregões de uma vida ficam ali expostos na luz e na sombra de uma estória, que pode ser de A., como em muitas linhas pode ser de C., de T., de G., ou então, fantasiando, a nenhuma delas pertencer.

Neste livro, cuja leitura iniciei numa manhã de Sábado, a escrita de Francisco Resende estava a ser intensa, cheia de imagens e viagens saboreadas numa vagareza morna ao sol; a dada altura, parei. O horizonte era uma mentira ambulante e havia o absurdo de um futuro impossível.

Aqui, a insatisfeita criatividade e a vontade de saber, levaram-me a procurar o passado na simplicidade única do tenham uma boa vida.

Procura-se um sempre, não é? Há portanto um sempre em cada um de nós, pronto a ser vivido e no espaço onde se pode libertar o que sou, há acordes que apenas ouço no meu pensamento, não sabendo se é o passado que acorre a mim, ou se sou eu que vou à procura do que poderia ter sido vivido intensamente.

Contagiam-se as palavras, abrem-se, veneram-se e a existência transforma-se no sonho do senhor Greenwich: torna-se escritor. As linhas ganham possibilidades, aparecem rasuradas, inteiras, estéreis, sobrevivem ao predestinado fracasso. A Poesia permanece inteira, única.

O Terceiro Acto, imagino-o; há ali um lugar por preencher. Mea culpa. Recuperar-se-á o tempo nunca perdido para ler. E se agora como um conto for em breve leitura para o meu regaço, acredito que as letras que o compõem, serão o que quiserem ser.

Refúgios, cicatrizes, êxtases, essência, proibições, disfarces, fingimentos e o acaso a ser um sempre. Não me resta muito mais deste delírio incompleto; a música é um mundo perturbador dos sentidos, inebriante, mesmo quando resulta na eterna canção dos três acordes.

E desse sonho que (sempre) fica, obrigada Francisco, pela maravilhosa viagem que marca a diferença entre a saudade, a insatisfação e a possibilidade de acontecer.




domingo, 16 de junho de 2024

O Recuar das Águas

O Recuar das Águas, é o quinto e mais recente livro de Mónia Camacho, editado pela Nova Mymosa.





A invenção entretém a morte.
Assim começam o livro. As personagens surgem em catadupa, alegres, coloridas, com sentido de humor. Vão deixando um rasto de ternura, de empatia.

Deparo-me com diálogos e momentos divertidos onde vai surgindo o mote da narrativa: os idosos e as suas dificuldades, a necessidade que têm de comunicar e de ter quem os escute, apoie e esclareça, de sentirem que são úteis e não um peso para a família e amigos, de saberem que podem amar e serem amados; de serem vaidosos se assim quiserem; subtilmente é abordada a importância das relações intergeracionais, de como podem influenciar e beneficiar a saúde física e, principalmente, mental dos mais idosos.

Mas nada disto é evidente no imediato, descubro conforme prossigo na leitura: um coro de velhotas animadas, faladoras, cheias de ideias e até manhas. Irónicas. Encontros, relacionamentos, amizades, cumplicidades. Fascínio.

A idade é um contra-senso, escreve a certa altura. A vontade de contrariar o estado actual é grande e o equilíbrio será possível se, em larga medida, houver abertura e movimentos nesse sentido. É possivel... Está a acontecer…

A escrita da Mónia tem a poesia sempre presente, é um cunho muito pessoal e característico, há musicalidade nas frases que reinventa, há subtis referências cinéfilas. Procura o imprevisto e ele acontece; a Mónia ousa e tem tesão ao escrever. Não é apenas com este livro, é com toda a obra que lhe conheço e que tem criado até hoje.


Frases que sublinhei:

Não saber faz parte de estar vivo.

As máquinas mentem?

E os dias não paravam a ver montras.

Ainda mais difíceis agora que era velha. E embora já o fosse há algum tempo, ainda não se habituara.

Vais ter um desconhecido a viver contigo com a tua idade?

O que é que importa? Sempre me faz companhia.

Mas todos sabemos que o recuar das águas traz sempre uma fúria maior logo a seguir.

A velha era tudo o que as velhas não são.

Talvez fosse para isso que ali estava. Para lhe vigiar o tempo que faltava.

- Vê se não morres já, que a Luzia vai passar cá amanhã.






sábado, 15 de junho de 2024

Pesar o adeus

Pesar o adeus, é o quinto e mais recente livro da Andreia Azevedo Moreira, editado pela Nova Mymosa.




Um velório é o sóbrio palco desta surpreendente peça em que a vida e a morte de um homem tomam o protagonismo; o corpo inerte no caixão já nada é; o falecido foi pai, o falecido foi amigo. Na hora de dizer adeus, dois homens conversam, entre silêncios confrangedores. Um sente-se o filho mal-amado, tendo sofrido represálias que considera injustas, o outro teve a seu lado um amigo, apoio nas horas difíceis, dias felizes. De facto, quem era este homem? Quem conheceu o seu lado real? As circunstâncias da vida terão invertido a personalidade do homem? Aparentemente, duas pessoas diferentes. Um pai manipulador, um idoso adorável…

Um livro profundo lido num sopro. As palavras ganham dimensão e poder. A morte que traz verdade e mentira sem localização temporal; a morte, a grande senhora, que divide a dor e não quer culpas. As relações humanas de uma vida colocadas a nu nas fragilidades, no amor e no ódio, nos desentendimentos, nos medos, nas humilhações, nas agruras, no desconforto, nas partilhas, nos afectos, nas amizades…

A Andreia foi corajosa por pegar no tema e tratá-lo sob este prisma; a Andreia é corajosa porque cresceu a escrever e cresceu tanto na escrita, que lhe reconheço e admiro a capacidade incrível para me surpreender... toca onde há mágoa, toca onde há amor.

As pausas, a posição corporal, as palavras dos diálogos que a determinado momento são bolas de pingue-pongue: virtudes, defeitos, qualidades… Quem perdeu? Quem ganhou?


Frases que sublinhei:

O ódio foi o passo decisivo que dei antes de desistir do amor.

Roubava-me a esperança, a vontade de estar vivo.

Há pessoas que morrem cativas do passado e do que permitiram que os outros fizessem delas.

Despedir-me de um corpo morto serve para quê?

Não se simulam os dias felizes.





sexta-feira, 14 de junho de 2024

quarta-feira, 12 de junho de 2024

terça-feira, 11 de junho de 2024

segunda-feira, 10 de junho de 2024

sábado, 8 de junho de 2024

sexta-feira, 7 de junho de 2024

quinta-feira, 6 de junho de 2024

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Réstia

De repente,
uma sombra desconhecida...

E durante quinze anos
lado a lado caminharam,
tantas vezes quis agarrá-lo,
ele, fugidio, escapava.
Ela, a rede estendia
ele, pela família, lutava...

Hoje, a luta cessou,
a paz chegou-lhe ao corpo.
Chora-se a saudade
e no rasto permanente de luz,
fica a ténue esperança:
o amor tudo vence.

Vence, acredito que vence...




Para o Firmino Marques, um ser excepcional


terça-feira, 4 de junho de 2024

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Lado

De que lado fica a saudade?
Que vozes guardam estas pedras rugosas?
Há casas de pertença...





domingo, 2 de junho de 2024

Voltar

Que bom que voltaste,
diz-me o ranger do degrau.

A que lugar pertencemos?
(quedo-me pensativa)
Ao lugar das memórias que sonhámos,
ao presente de rotina-que-cansa,
ou àquele que ainda será?
E se nenhum destes for?

Seres errantes habitam-me...