terça-feira, 21 de abril de 2020

... ar sustido.

encostou-se à parede e aquietou
(frio lapidar nas costas)
sustém a respiração... por quanto tempo será capaz de aguentar?
(ouve as vozes que murmuram)
sustém a respiração e na ansiedade, cerra os olhos para não sentir.
(olhar lembra dor)
cada molécula de ar transporta uma amálgama de emoções e de cores
(cor do sangue fervente)
continua sem respirar... porquê?
(lateja a pele)
o pânico apodera-se do corpo franzino
(na porta, o espelho reflecte nódoas)
treme e a respiração quebra, toca o lábio vermelho sangue
(caíra com o embate, tropeçou dirá)
o cansaço é notório, a dor acompanha silente
(nada tinha, nada tem)
respira lentamente, o ardor na pele é insuportável
(sopa fria, mão em estalo quente)
vozes que se afastam, é a oportunidade
(a hora das horas que chega)
afasta-se cambaleante, amedrontada mas consciente
(basta a uma vida sem vida)
atravessa a rua sem carros, a noite escura é companheira
(a dor lancinante do filho perdido)
o empedrado escorregadio torna os passos hesitantes
(um pontapé...)
hoje vira a página firmemente
(o rasgar de um parto de morte)
a campainha ali, a soleira, o outro lado
(recomeçar...)
boa noite, preciso de um abrigo onde ficar...


(texto de 09.02.2020)