sábado, 25 de abril de 2020

... de terror.


Fecha os olhos… ainda treme aterrorizada, pois consegue sentir aquelas mãos pequenas e ainda sapudas a amordaçá-la. 

Durante a tarde andara às compras no supermercado do bairro; a sensação de estar a ser observada era incomodativa, para não dizer inquietante. Olhara diversas vezes por cima do ombro. Nada. Apenas via uma criança de camisola com capuz vermelho que alinhava umas caixas, em jeito de brincadeira, enquanto esperava pela mãe. 
Estranha sensação. Queimava... Pegou no resto das coisas, pagou e saiu. 
Estava frio e a pressa de chegar a casa era tão grande que não se apercebeu que estava a ser seguida. Quem observasse este momento veria uma pequena figura, ligeiramente afastada, no encalço da apressada mãe, dando passos curtos, leves e rápidos. Silenciosos. 
Carregada com as compras, entrou no prédio, empurrando distraidamente a porta para a fechar. O elevador continuava avariado e subiu a escadaria. 
Estafada da subida, nem pousou os sacos à porta de casa. Abriu-a com tudo na mão. De repente viu-se empurrada e atirada ao chão e levantou o olhar. 
- QUE É ISTO?!? - gritou. 
A criança do supermercado sorriu de forma macabra e disse: 
- Vamos brincar? Queres brincar comigo? E nesse instante, picou-a. Um calor abrasador fustigou-lhe as entranhas. Que se passa?!? 
Agora está a ser amarrada e amordaçada, tem o corpo imóvel mas sente tudo.
Do bolso do casaco da criança vê sair um bisturi. Começa a entrar em pânico. 
- Vamos brincar? - pergunta e começa a cortá-la lentamente nos braços. 
A dor é atroz. Olha no profundo verde daquelas brilhantes pupilas. E da dor física e da alma, verte lágrimas pungentes em gritos silentes e dilacerantes. 
O líquido injectado começou a surtir efeito e uma ténue sonolência apoderou-se dela, deixando-a sem reacção e vontade de lutar. 
A criança pára. 
Sorri-lhe e passa-lhe a mão no rosto. Teme o pior. Acaba por ouvir: 
- Pareces a minha mãe! Desculpa. 
Tira-lhe a mordaça, solta as cordas e depois de um beijo na bochecha, sai. 
Tremendo descontroladamente, tenta chegar ao telemóvel arremessado no chão. Desiste. Não consegue. Adormece ali. E ela? A criança? 
Na rua e já na esquina da viela do hotel, está encostada, enorme e de olhar brilhante e sedutor. Procura a próxima vítima e desta vez não pretende deixar-se vencer por lágrimas e olhares. 



(Esta foi a minha "portuguese horror story" escrita para a foto do @tiagoaleixo (Instagram) e que com a devida autorização, partilho).




(texto original de 26.10.2018, revisto em 24.04.2020)


Sem comentários:

Enviar um comentário