Sonoridades

Canto de mar.

Mãos

As mãos de uma escada interminável.

Abandono

Das telhas quebradas, as paredes manchadas contam dissabores;

do tempo nas paredes, os vidros quebrados sussurram segredos;

dos vidros ainda presentes, a varanda metálica espreita reflexos.

Nada é justo: nem o tempo que passa, nem o cruel abandono.

Identidade

Ela existe, é uma pertença, pode até não estar completa,

mas como um puzzle, aguarda pela última peça.

Ramo

Alongando a poesia que a imaginação alimenta.

Cores

Da profusão de cores que habitam um jardim...

De costas voltadas...

Estranhos são os lugares onde o orgulho reside.

Wild horses

Always...

The Rolling Stones - You Can’t Always Get What You Want

Luz e sombra

Caía o dia e a luz, oblíqua, prolongava-se pela sala,

entrecruzando linhas e criando envolvência.

Quedei-me por ali, observando-a até à sua total diluição no momento...

Novelos

Era um novelo extenso e bem enrolado aquele onde depôs os pensamentos;

mas foi insuficiente para tantos e outros foi espalhando.

Guardá-los-á até saber qual a ponta que irá usar.

Despetalar

as pétalas dos dias,

vagarosamente...

Ondulante

Ao vento

Memória

Fotografar é desnudar emoções

morder o lábio e sangrar;

é esperar e desesperar

amar o sal do rosto e seguir;

é esforço inglório

no rugido do mar em fúria;

é sentir o estar

é saber voltar...

Fotografar é a unidade do ser,

na essência única do que irá prevalecer.

A memória...

Pensamento crescente

Com o raiar da manhã, o pensamento surgirá liberto.

Renascido.

Horizonte

O horizonte é uma mentira ambulante.

Ar

Para o verbo respirar.

Rio-luz

Da margem que me seduz

Silvestre (2)

Silvestre, simples e bela.

Silvestre

da cidade ao campo

a purificação

Rua

O dia tem em si a rua e o sol que desenha paredes

subtraindo o reflexo do que se imagina

ser um e outro, separadamente

aglutinados são estórias

soleiras inclinadas

gente animada

a rua desce

dia cresce

Porto

só

Poema curvado

São enroladas as ondas visíveis da arriba

desce-me o olhar nos passos pela marginal

reconhecendo o outro lado da poesia

na espuma de areia bailada

O vento agita a melena

trazendo palavras em murmúrios

anotadas no pensamento

retidas nos cristais de salitre

O poema curvado

venera o mar

seduz o tempo

permanecendo ousado.

Parede de emoções

A crueldade do tempo escreve-se nas paredes inventadas de luz.

Ar

Frestas, ar. Passagem para lugar de encantar. Descer ao mar. Recantos. Para ouvir o mar enrolar. Embalo.

Espreita

Dos lugares abandonados...

Espera...

Momentos e pormenores na espera de um livro...

Chão...

Esta foto é recente e recorda-me os dias de olhar e fotografar

o que entendia diferente, atractivo, peculiar...

no ar, no chão, na água, ou simplesmente uma linha feita de luz.

Vasculharei os arquivos na procura desses momentos...

será um bom exercício de memória.

Aro(mar)

Aroma silvestre de ervas temperado de mar

Textura de sal

Entre penhascos

um mar que não acaba

Pintura-aquosa

uma simples caminhada transforma-se em algo surpreendente

quando um charco oferece uma curvilínea pintura aquosa

Na serrania

Na imensidão pedregosa da serrania onde enraizam sentires, assoladadas pelo Norte, fustigadas pelo Este, indefinidas no horizonte do Oeste, sonhadoras ao Sul, cresce a mais subtil das árvores, a mais simples, a mais singular...

Como se constrói

uma vida na sobreposição de experiências.

O que não mata, fortalece...