domingo, 31 de maio de 2020

Com uma pena...

... desenhar sonhos com vento
pintar telas com maresia
rabiscar no papel com pó de nuvens
e nas areias do tempo caminhar...




sábado, 30 de maio de 2020

Sedução

Seduzem pelo que não dizem
cativam nos seus murmúrios arrastados
hipnotizam nas indizíveis ladainhas de ramos...
De estação em estação
as passagens vão sendo contadas 
nas memórias de um entardecer...



quinta-feira, 28 de maio de 2020

terça-feira, 26 de maio de 2020

Dias de névoa...


E dos pensamentos que dilatam
além sentada de pernas balançantes
e os olhos pensantes
perscrutam a névoa cerrada.
Ouço passos; afastam-se.
Não és. 
A espera pelo regresso.
Ainda que o silêncio impere.
Apesar do medo, eu fico.
E por mim espero, ondeando.
Ao som do tempo que passa...
Impiedoso.
Espero.
Espero e balanço entre linhas brancas…



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Ponteiros

Adia-se na lentidão compassada de um ponteiro que teima em recordar que há encantos perdidos, olhares indizíveis, lugares irrepetíveis, vozes que murmuram até sempre...



domingo, 24 de maio de 2020

sábado, 23 de maio de 2020

Viagens...

De uma viagem, independentemente do tempo que demore, a essência está no percurso, com tudo o que dele faça parte. O destino? A partir do momento que a viagem inicia, perde a sua importância...



sexta-feira, 22 de maio de 2020

quarta-feira, 20 de maio de 2020

terça-feira, 19 de maio de 2020

Salto de vida


Permanece em qualquer intempérie. Retorce. Não vacila.

A magia do que sonha intensifica a espera e rejubila.

Sem dúvidas. Saltar pela vida...




segunda-feira, 18 de maio de 2020

Dias de outrora

Quando o tempo do seu tempo já não é tempo, finge e brinca.

Brinca e desacelera-o na pedalada lenta.

Repousa o olhar nas memórias.

Dias de outrora...



domingo, 17 de maio de 2020

Lengalenga

O tempo perguntou ao tempo
quanto tempo o tempo tem
e o tempo respondeu ao tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem…


A lengalenga aprendida na infância, a velocidade das palavras ditas que nos travava a língua, risotas dos disparates, sem tempo pensado para imaginar sequer que esse tempo era um sopro breve, malgasto em futilidades, desperdiçado com inutilidades… Quem passou por quem fomos? Quem está onde somos?...
Clandestinamente chegou-se… sulcou de estórias os traços deixados numa pele feita de tempo.
Vivemos sem pensar, numa pressa vã e quase inglória. Que resta depois da emboscada? A sombra que acompanha desde o início, silenciosa.
Espera pacientemente. Sabe que será.
Sorri. Não tem pressa…




(texto de 29.07.2019)

sábado, 16 de maio de 2020

Voo de memórias...

- Porquê teimas o olhar nesse rio?
- São as minhas memórias... - responde com secura.
- Não vais perdê-las se voares, estarão sempre contigo. São tuas! - insiste com uma sorridente doçura.




(texto de 09.01.2020)

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Do que se vê...

Dos lugares onde as vidas costumavam correr velozes.

Dos lugares onde a solidão agora é companhia.


quinta-feira, 14 de maio de 2020

Lugares...

É quase como ir ao lugar onde a pele conta segredos.

Uma pele estranha, que funde e confunde.

Inebria.




(texto de 21.12.2018)


A menina dos pássaros

Rubro o ocaso. Intenso.
Olha sem ver. Sente. A brisa é suave e impregnada de maresia.
Não precisa saber. Estão ali. São como gaivotas.
Asas. Levantam voo.
Os sonhos. Os pensamentos. As palavras.
É ela, além, a menina dos pássaros.










(texto de 10.12.2018)


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Vento de mar...

Tangem-se algures os acordes melodiosos da harmonia vibrada, densa e intensamente, nas curvas de dunas sedosas, afinadas pelas notas omissas da partitura desse poema incessante, que não declama a calma da entrega ao momento… assim.
Há uma fé venerada.
Essa fé pagã de liberdade… insubmissa.
Asas de vento.
Vento de mar…




(texto de 24.10.2019)

Engavetadas


“Dores silenciosas d’alma… 

Tristeza e solidão. 

Engavetadas…” 

Palavras escritas em contagem decrescente com a prata riscada em traços curvados de letras, elas que ligadas entre si, transportam dilemas sofridos, desgastados, tolhem e silenciam emoções... 

Na cegueira sensorial, o suave som da tinta espalhada que retorce os sentidos, delineados.

E nas reticências, ponto a ponto suspende o tempo, por um tempo, esse de uma gaveta que abre e que se deixa cair, esquecido até não ser tempo.




(texto de 04.08.2019)

terça-feira, 12 de maio de 2020

Ilusão ilusionada


Entre a luz e as trevas, sendo que ambas existem, ilusionam-se as escolhas nunca livres e o amor do “felizes até à morte”; acredita-se no que se pensa merecer... Inquestionáveis as dúvidas, irresolutos os enganos. Será ilusão no que se quer ver, nas impressões dos sentidos que enganam e condicionam, que dificultam o entendimento e, da ilusão poética, surge a verdade decorada, camuflada, manipulada, trajando a aparência... seduzida na estética, reinventada na história, ou talvez não; simulada, dissimulada. Fugitiva.







(texto de 11.08.2019)

Das memórias...


Max Richter - She Remembers

https://www.youtube.com/watch?v=GBxZGJXXLLI






segunda-feira, 11 de maio de 2020

Centelha...


Indolentemente vagaroso, passava, marcando o nada e a energia, desapegada, extinguia-se. No silêncio, a voz afundava-se. Sumia-se a vida. E da penumbra, em instante audaz, cintila uma íntima travessia e a vida, inebria-se na luz dilatada. Marcada a espiral de mudança, desagrilhoada a desarmonia cravada em corpo e alma, a energia flui e envolve, abraçando. O tempo já não é o mesmo. Sinergia com vida. Crescer e aparecer. Viver. Prazer…




(texto de 11.08.2019)

Intermitências

Intermitências de pensamentos nocturnos 
Escuto e silenciam-se. 
Aguardo, atenta... 
Murmuram sussurros, entrecortam-se emoções 
Sei-me ali. Na distância e na proximidade... 
Desejos riscados de luz… acontece. 
Refúgio escapado... protegido.
Energia… amanhece.

Sou eu. Sei-me ali...




(texto de 11.06.2019)

domingo, 10 de maio de 2020

Telhados...

Telhados todos temos, uns resistentes, outros fragilizados, de telhas duras ou baças, de vidro ou plastificadas... mas o que abriga o telhado? Vozes, pessoas, estórias, vivências e do tudo e do nada, sombras, nossas e dos outros... não deixar que a sombra seja maior do que a luz é uma enorme batalha, constante e diária. Aprender, caminhar, partilhar... eis que a zona de luz aumenta e o equilíbrio acontece... simplesmente!





(texto de 30.06.2019)

O tempo do mundo...


... e do mundo que segue lá fora.


Hans Zimmer - Time (Inception)

https://www.youtube.com/watch?v=RxabLA7UQ9k&t=154s






sábado, 9 de maio de 2020

Veludo...

Surpreendeu-se com a forma errática como deixou os pensamentos fluir. Nada alinhou. Na indisciplina de sempre, fixou o olhar naquele ponto que escolheu e começou a dilatá-lo. Alongou-lhe a silhueta, contornando-o. Lentamente, ganhou textura, avolumando. Nada o definiu, deixou-o crescer. Moldou-lhe o movimento, atraindo para si uma proximidade latente. Deixou-se ir nos murmúrios cegos do olhar, assim que ouviu o veludo de uma mão percorrer a seda do corpo palpitante.






sexta-feira, 8 de maio de 2020

Dos abraços...


Sabes - disse-lhe, colocando um braço sobre o ombro e impelindo-lhe o olhar em frente - neste plano em que estamos, vemos tanto, abarcamos tanto e mais além, que há silêncios que poderiam ser preenchidos com outros silêncios. Às vezes assusta-me o tanto que sei...




(texto de 20.02.2019)

Energia...


Quantas personagens vivem em mim?

Quanto dos outros sou? Linhas ou diagonais? Energia...

Vozes, murmúrios que inquietam, ladainhas. Saio de mim...




(texto de 02.04.2019)

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Do azul...


Segurei o tempo e sonhei...




do Antes e do Depois...

E sabes o que sou? A conjugação de imensas palavras que são verbos, substantivos e uma imensidão de adjectivos. Sou um lugar em mim...

E desse lugar, sou instantes, sou leveza e liberdade, fragmentos de ausência e presença, estilhaços vividos do antes e do agora.

Sou eu nessa transparência opaca de uma luz que me confunde, alimenta e funde, reinventando-me perante o desalento e sorrindo à passagem da corrente; não da corrente que flui em sonoridades de cascalho, mas na torrente de palavras que em cascata jorra de mim e é nesse momento que deixo de me pertencer...




(texto de 18.03.2019)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Bulício

Encerrada. Emoções encaixadas. 
Uma alma guardada de penas encolhidas. 
Refugiada. 
O bulício de pensamentos abala um percurso linear e espreita um lado de cor. 
Vai saindo. Avança. 
Estica e suaviza as penas. Ensaia voos. As passadas esbatem. 
Segue a luz. A sua... e voa. 
As marcas de um tempo ficam... são as estórias e momentos, contados, lembrados, sussurrados... no papel colorido, nas imagens em movimento, nas palavras escritas. Memórias que são passado. E há um presente a acontecer...




(texto de 21.07.2019)

Dos ciclos...

Caem as cortinas. Caem as máscaras. Caem as folhas. As estações passam, a vida prossegue. Ciclicamente... Renovamo-nos na esperança da permanência. 
Mas nada é nosso... nem a vida.





(texto de 09.06.2019)

terça-feira, 5 de maio de 2020

...murmúrios estendidos.


Sou esboço, sou riscos, linhas levemente desenhadas; algumas vincam-se pelas vivências de um carvão mais escuro, ou borratam-se pelo movimento distraído da mão que pensa sem cessar no que quer (des)alinhar.

No esquiço perdido aparece com mais nitidez, nos dias severos do pensar, um rosto sem idade, indefinido. Apenas o seu sorriso transmite emoção.

Inesperadamente os traços translúcidos ganham vida e cor, transformando o vazio do branco amarrotado em murmúrios estendidos de letras entrelaçadas.






Da sombra...

Procurava-se todos os dias na sombra do tempo e em cada encontro, uma mudança. Desesperava. Tornava-se irreconhecível. Escondia o rosto, deformado pelo esquecimento. O olhar esvaziava-se da luz que o alimentava, ferido. Um dia, quem sabe, sairá do seu refúgio.




(texto de 04.05.2020)

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Vida pulsante

Pulsa-me a vida, tentadora e irresistível a senti-la. Os silêncios, indizíveis, ganharam sonoridades, contornos e texturas; apelativos, já não calam. Ainda olho com espanto para eles, o que foram e como voam agora. Em liberdade. E de ti quem sou eu? Sei onde estás, sei-te em todos os sentidos. Sei quem és. Mas agora, avança nos passos e sê a tua vida, a tua energia. Sente, sente-me…





(texto de 24.06.2019)

Interior

Deste meu interior luminoso posso observar, sentir e entender. Nesta solidão, conheço-me, monologo-me e em cada espaço recortado estão memórias, vidas, momentos, meus e dos outros... 
E do exterior vislumbro evolução, reacção, crescimento, um mundo em constante movimento. E ali vou sendo, com tudo e todos. 
Aqui? Aqui sou única, livre e estou sozinha. Se é loucura? Talvez… mas não temos todos um pouco de loucos?




(texto de 03.06.2019)

domingo, 3 de maio de 2020

Havia um ramo...

Naquele acordar, sem proferir palavras ou restolhar qualquer som, esgueirou-se e saiu mais cedo. O silêncio e um resto de noite ainda espalhado no céu eram seus cúmplices. O dourado labrador, dando pela presença conhecida, nem se mexeu. Já era hábito. Não estranhava, nem sequer quando saltava o muro, estando o portão apenas encostado. Rangia e isso alteraria a fuga. Pelo caminho foi largando folhas, que ia arrancando uma a uma de si, folhas brancas, algumas com uma só palavra, várias ilegíveis, outras tantas doridas, amarrotadas. Os bolsos fundos abarrotados foram ficando lentamente vazios, onde unicamente as mãos passaram a ter lugar. Caminhava de cabeça baixa. O vento passava-lhe adiante, brincalhão e levantava uma fina poeira... se antes era razão para correr atrás dele, há muito deixou de importar-se com as reviengas do vento, até com aquelas provenientes dos mais diversos imprevistos. A estrada de terra perdia-se na curva e as pegadas no pó seguiram para lá dela, apagando-se o olhar de quem, na silhueta esbatida, esperasse ver algum rasgo de esperança... 
Andara todo o dia em percursos entre florestas e campos abertos. Cansara-se. E nada encontrou. Nem vontade, diversão ou inspiração. Reinava o vazio. Escurecera.
A margem do seu mundo de água estava colmatada com destroços, revelando que a intempérie fora devastadora. Ultrapassou-os. Do outro lado, em língua de areia recente, um enorme ramo arqueado, preso, abandonara-se à sorte... a sua turbulenta viagem terminara. Certamente alguém iria, em breve, levá-lo para servir de lenha no ainda recente mas duro Inverno. O céu carregado não permitia enganos, a chuva aproximava-se, sentia-lhe o cheiro e percepcionava a sua vibração no ar, contudo a luz incandescente do ocaso envolvia o ramo e de repente a sua beleza foi encontrada, sendo o seu destino alterado. Arrancou-o do areal e passando-o na água, removeu a areia e fiapos agarrados. Com alguma dificuldade e protegendo-lhe os ramos menores, conseguiu arrastá-lo pelo caminho de regresso. Parava de onde a onde e as folhas brancas retornavam ao lugar que tiveram da manhã, os bolsos, que voltaram a ficar repletos.
Abriu o irritante e rangente portão, fazendo passar o ramo, sem partir qualquer galho. Pela primeira vez naquele dia sorriu: o seu poema estava salvo. O ramo, momentaneamente pousado no alpendre, admirou-se, onde estaria? De volta com uma escova, sacudiu e limpou qualquer resíduo do ramo até ficar como queria. Tinha a seu lado um cesto cheio de pequeninas e coloridas molas de madeira.
Aos poucos as folhas escritas foram saindo dos bolsos e enchendo os pequenos galhos... mesmo as folhas brancas deixaram de sê-lo. As palavras acorriam em catadupa e rapidamente um poema ficou visualmente escrito... o que antes fora despojos e despejos de tempestade, transformara-se em algo diferente e belo, no recanto de um alpendre que deixou de estar vazio.





(texto de 25.01.2020)


sábado, 2 de maio de 2020

Das forças...

Sou a soma das forças que pugnam em mim e por mim, subtraindo-me as fraquezas e das asas cerradas, o ímpeto do voo. Raízes em ramos de penas suspensas prendem e libertam e a divisão de sombra e luz, recrudesce, sempre. Intensa. Única. Marcante. Sê-la-á até extinguir, mas serei sempre a minha casa. O meu refúgio...




(texto de 12.07.2019)

Pontos cardeais

Deixo o Norte, não procuro o Sul... não há pontos cardeais para me orientar. Fecho os olhos e agora que estendo a mão, deixo que me guiem os sons, a melodia das palavras, os cheiros de memórias, soltas, procuradas. Seguirei o raio de luz que me trespassa e aquece, arrepiando a pele... sentirei a brisa que me fustiga, ou o vento agreste que me acaricia. Banhar-me-ei nas intempéries com o tempo que me resta... Solto-me, aos poucos, neste corpo que é meu, nesta liberdade que me abraça... numa solidão que não me desampara.





(texto de 10.04.2019)