Lado

Haverá sempre dois lados...

Elar

Elar memórias 

como quem tricota uma manta

para embrulhar o corpo,

muito vagarosamente,

nos dias de saudade.

Azuis

Borrão de tempo

Desbotada saudade

Ventania

Tombada...

Ser

Entre o céu e a terra

a noite desenha o que fica por ser,

tombando o olhar no tempo que ondula

e a finitude a escapar,

sonhando-se...

Silêncio

Vento forte no canal

manto de água crispado.

O silêncio atravessa a noite

indiferente ao temporal,

está cansado.

À porta da casa, 

o banco solitário convida:

- Anda daí, senta-te!

Acompanha-me esta noite.

Laços

Atravessar pontes

sem medos.

De um lado ao outro

a distância da coragem.

Construir pontes

e mantê-las.

Os laços são ténues fios de saudade

que permanecem no tempo

e vibram a cada encontro.

Gotas

Poema em gotas de Inverno,

lento

cheio

jorrado de luz.

Geometria

Sombras que são geometria em manhã de zumbidos.

Espera

Ilumino

horas

de espera...

A imaginação latente

quanto tempo dar ao meu tempo?

Noite

A chegada da noite que semeia dúvidas...

Corredores

Passos alongados,

corredores silenciosos

vidas desligadas...

Lá fora o mundo flui,

indiferente.

Vestígios

Dos lugares esquecidos

de onde a vida foi levada

e lavada de fé e memórias.

Restam apenas vestígios...

Portas trancadas,

chave arremessada.

Do que não é visto,

nada será lembrado...

Travessias

Pertencem-me as horas secretas das travessias.

Céu e magnólias

Trago magnólias no olhar

antecipada Primavera...

Dias

Dias em meses

Como gotas

O ponteiro pinga horas.

A acabar

A meia-noite chegará

a animação esvaziar-se-á das ruas,

voltando tudo ao que era...

Uma terra de carnaval.

Livre

Quantas grades preciso erguer para me sentir em liberdade?

Terra

Os rios crescem e saltam do leito,

ao longe, o Baixo Vouga é enorme lagoa,

Em terra a folia dura

e as magnólias acenam Primavera.

Devaneios...

Atitude

Há lugares que são recepção

e dependendo da forma como os vemos,

como os sentimos,

a amabilidade e cuidado acontecem.

Vento

O vento, livre e incauto,

sonhador até,

corria atrás do tempo...

Queria agarrá-lo,

tocar-lhe...

prendê-lo.

O tempo escapava-se,

sempre.

Na verdade nada o prende,

antes, é cárcere.

Aprisiona memórias,

mostra-se em vincos e cicatrizes...

E no fim,

regressa à indefinição do que é:

tempo.

Tempestade

Camadas em camadas

entre a vida e a vida

compondo as horas de espera

em chuva, noite, vidro, frio,

até que a luz se torne regresso.

Verde-tempestade.

Três dias

Flores suspensas

Carnaval à porta

Erguem-se máscaras

Pousam-se vidas.

Três dias de folia

... e depois?

Pontes

Laços a serem mais do que fitas e atilhos:

palavras, olhares e entendimento

na hora em que a cidade não adormece.

Fragilidades e silêncios

correm na pele

onde sal e fogo

tecem sonhos.

Tempo e marés de paciência para aguardar...

Contornos

Indefinidos são os contornos

de inquietos pensamentos

e as palavras soltas,

gizadas em sentidos inversos,

trazem leituras invisíveis.

Em

ca

ta

du

pa

despenham-se,

irrealizáveis.

Sonhos

Habitam-me diariamente e crescem-lhes asas.

Lugar

O verdadeiro lugar...

Esperar

Vislumbrar os dias,

esperar.

Com toda a paciência...

Ficar

Ficar

como

memórias

na

pele.