sábado, 21 de janeiro de 2023

"Do lado que arde", de Mónia Camacho



Com este Do lado que arde de Mónia Camacho, dou por mim a estabelecer uma relação simbiótica com muitas das ideias e pérolas (como ela costuma dizer dos outros) que nele estão contidas; sinto o(s) meu(s) eu(s) em muitas delas.
A relação que tenho com a memória, com as palavras e os lugares, com simbologias e coincidências, com gestos e vozes, transforma-se numa catadupa emocional ao longo das páginas e das personagens que vão aparecendo, cada uma no seu papel e intensidade.
Ao longo da leitura e na maneira tão peculiar de escrever que a Mónia tem, a minha identidade é questionada das mais diversas formas, já que ter nome é mais importante do que supunha, como um ponto de partida do eu, seguindo-se tudo o que lhe está agarrado (genética, memória, vivências em família e em sociedade) e que me torna num ser cuja individualidade está a ser recorrentemente (auto)contestada.
A inquietação acicata; o destino prega partidas; a memória cria outras memórias, reescreve-as, estendendo uma teia de promessas no futuro. Porém, quanto de mim fica por deslindar?
Destaco diversas ideias das duas leituras que fiz do livro: um momento de conveniência é a amnésia; a dualidade do ser, colide e desmantela emoções; a arte surge salvadora, mas sê-lo-á de facto? Ou poderá ser um lugar de não-pertença? E o tempo vai passando: envelhece-se. Será apenas fisicamente? O que sei de mim é apenas memória?
Neste maravilhoso “livrinho” da Mónia Camacho encontro um manto de possibilidades exploratórias do ser e da sua identidade, das emoções e do relacionamento com os outros; sem dificuldades, induzo as imagens desta escrita bela, profunda e instigadora.

Por tudo isto e muito mais do que há para descobrir, obrigada querida Mónia.











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