Hoje fora um dia em que tudo correra mal. A greve desestabilizara a maldita rotina que mata. O trânsito infernal, todos na rua... enfim.
Durante o dia só quisera um pouco de sossego, contudo não o encontrou. Pedidos, reuniões, papéis. Hoje era para ela que convergia a lembrança. A dela e a de todos.
Inexorável e carrasco, ele, o tempo, parecia seguir mais lento, brincando.
Tal como criança na escola ao toque da campainha, chegada a sua hora, dá um salto e num ápice está fora do edifício. Libertadora a corrida até casa, apenas um objectivo a move agora.
O mar que espera por ela...
Já de prancha pousada na areia, deixa-se escorregar e sentada nas pernas, fecha os olhos. Mãos quase juntas, respira profundamente. A maresia carregada de sal, impregna-lhe a alma. Repete o exercício, mas agora lentamente. Está em paz e sente-se serena.
Levanta-se. Caminha até à linha da água. E entra...
Passa precisamente um ano desde a última vez que o fizera.
Deita-se na prancha que fora do irmão e nada até à rebentação...
(texto de 12.09.2018 escrito e nunca publicado para uma foto de uma querida amiga, Sofia Sousa Silva, de Amesterdão)